sábado, 6 de dezembro de 2014

1 - O Reencontro (parte II)

Penélope nunca sería a primeira escolha de mulher para o meu filho. O Pedro trabalha num departamento especial de investigação de Londres, nem sei ao certo o que ele faz mas calculo que tenha bastante trabalho e responsabilidade. Já a sua mulher, uma agente de uma escritora qualquer que escreve romances chatos que ninguém quer ler. O trabalho de ambos faz com que não passem muito tempo em casa então contrataram uma babysitter para ficar com a Helen: o membro mais novo da nossa família.

Uma pessoa ouve falar de babysitters assassinas e delinquentes e depois sabemos que alguém na família está a ser cuidada por uma. Não sei se deva pedir uma câmara para filmar a rapariga ou denunciá-la já. Mas possívelmente é alguma moça nova que precisa dinheiro para comprar bugigangas. Decidi conhece-la primeiro e só depois fazer juízos de valor.

Antes de mais Londres é horrível. Demasiadas pessoas, demasiados edíficios semelhantes e muitos automóveis. E os autocarros são enormes e as pessoas nada simpáticas. O clima? Chato. Nublado desde que aqui cheguei de manhã.

A babyssiter chegou por volta da hora do almoço e o meu filho está a conversar com ela enquanto eu arrumo as coisas no quarto em que fui despejado. É simples, iluminado e limpo por isso acho que me poderei adaptar, pelo menos até conseguir fugir daqui.

- Pai! Venha cá.

Não pensei duas vezes. O que mais quería era conhecer a rapariga ressacada que iría cuidar da minha netinha, decorar-lhe a cara e espetar-lhe um tabefe cada vez que o seu cabelo cheirasse a tabaco. Desci as escadas esperando encontrar alguém com o seu cabelo solto, anéis nos dedos que agarravam um telemóvel topo de gama ou na pastilha mordida pelos dentes, um decote q.b e umas calças bem justas ao pacote

A minha surpresa foi quando a encontrei. 

- Pai, esta é a Mary. 

- B... B... Boa... mulher! Boa tarde! 

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

1 - O Reencontro

- Que seja a primeira e última vez que me enfias num avião, Daniel.
- Não se preocupe pai. Acontecem mais acidentes de carro que de avião...
- E se me roubam a mala?

Daniel riu-se.

- Ninguém lhe vai roubar a mala pai.
- Como sabes?

Daniel semicerrou os olhos pensativo. E depois soltou um sorriso.

- Não sei. - Respondeu.

Isso não ajudou. Na verdade eu pensava não nas roupas que lá tinha dentro da mala mas sim da fotografia da minha falecida mulher. A única mulher da minha vida. Estivémos juntos durante 49 anos. Raios da mulher que podería ter durado mais um... só para comemorarmos as bodas de ouro. Mas compreendo que a sua missão estava completa neste mundo. Deixei-a ir quando vi que não era vontade dela ficar...

Após aqueles solavancos horríveis do avião a aterrar senti-me bem por estar de volta com os pés em terra. Se bem que não era a minha... Habituei-me às ovelhas e ao ar do campo desde muito novo. Os meus pais sempre garriavam comigo para que eu fosse calçar umas botas em vez de andar a sujar os pés na lama. Tinham medo que eu ficasse doente mas contam-se pelos dedos de uma mão as vezes em que apanhei uma constipação.

Encontrámos a mala saída de uma maquineta estranha e pergunto-me se as malas foram para lá levadas com delicadeza ou atiradas como vi elas serem transportadas para o avião. Se me partiram o vidro da moldura...

- Avô!! - Ouvi um grito e logo após dois pares de braços vieram ao meu encontro.

- Elisa! Marco! - Os meus pequenos netos estavam crescidos. A última vez que estive com eles ainda me cabíam na palma da mão. O tempo passa depressa.

- Como foi a viagem? - Perguntou o Marco.

- Eu levo a mala, pai.

Pedro tornara-se num homem que todos os pais gostaríam de ter como filho. Sempre atencioso com tudo, sempre pronto a ajudar... Mas muito magrinho.

- Deixa tar que eu levo. E tenho de ver se faço umas receitas da tua mãe que... olha para ti... - Agarrei-lhe na blusa. - 'Tás pele e osso. A tua mulher não te alimenta?

Elisa e Marco riram-se. Mesmo à nossa frente, uma mulher esbelta, loira e muito magrinha presenteava-nos com um sorriso.

- Olá? Desculpe mas não quero nada. - Passei ao lado da mulher que de certeza queria alugar os seus serviços.

De certo que era uma mulher bastante atraente, as curvas das ancas e das pernas mostravam bastante segurança sobre aqueles sapatos de salto alto que dão cabo das costas a qualquer uma que os tente usar. Uns lábios sedutores e uns seios firmes... Mas já não tenho idade para essas coisas, será que ela não vê?

- Pai, esta é a minha mulher. A Penélope.

Ora bolas!